domingo, 13 de abril de 2014

Salve Jorge




Eu tive um tio.
Irmão da minha mãe.
Ele era a pessoa mais legal e engraçada que conheci.
Toda família tem um tio legal, mas como esse era o meu, era o mais legal de todos
O nome dele era Jorge.
Nada pra ele era discreto.
Tudo era grandioso.
Ele comprava roupas de baixo na rua popular aqui no Rio de Janeiro.
A Rua da Alfândega (o equivalente a 25 de março de SP).
Mas ele não comprava 1 cueca só, comprava 25 de uma vez.
Comprava 25 pares de meia também.
O engraçado é que a toda roupa dele, mas toda mesmo combinava. Meias com cuecas e cintos. Calça com blusa e sapatos.
Como a compra era maciça, sempre dizia que tinha 90 pares de sapato, 110 blusas, 120 cuecas, 200 cintos e etc. Tudo da rua da Alfandêga.
Era uma figura!
Além disso, em nenhum dos meus aniversários de criança ele deixou de comparecer. E comprava todos os presentes na rua da Alfandega também. E não era só uma boneca. Era aquele saco, com 25 bonecas de plástico.
Adorávamos os causos dele.
Havia sido alcóolatra e foi do AAA por 20 anos.
Por isso, tinha milhões de histórias pra contar sobre as bobagens que fazia quando ainda bebia.
Ainda bem que ele nunca mais bebeu.
Como ele dormia algumas vezes na minha casa, era todo arrumado e combinandinho que deitava. Só acordava de manhã e lavava os olhos.
E quando se olhava no espelho dizia: " A velhice é uma merda"!
Não entendia muito bem, porque era muito nova (uns 30 anos)
Hoje claro que entendo bem e virou até um código de família: "a velhice é uma merda"
Morreu aos 64 anos de um câncer no fígado.
Foi rápido e a última vez que falei com ele ao telefone já internado me disse:
- "Tô todo amarelo, mas meu pijama é de um amarelo tão espetacular que combina exatamente com minha pele.
Saudades do tio Jorge e como é bom ter tido na vida alguém como ele!

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