sábado, 18 de janeiro de 2014

Nosso Quadro


 
 
Vi na pracinha do meu bairro uma mulher sentada num dos bancos.
Tinha um olhar triste, meio perdido.

Por aqui, tenho reparado, tem muita gente assim.
Não sei se é um bairro de solitários ou meu olhar sempre procura pessoas assim.

Resolvi fazer um quadro com essa mulher.
Fiz o esboço.
A mulher no banco, um elemento ao seu lado e tinha pensado um fundo quase vazio.

Aí, meu filho mais novo (meu grilo falante) viu o esboço:

- mãe, que linda essa mulher!
porque você não faz igual a Van Gogh, faz um fundo cheio de flores, com muitas e muitas coisas

-hãnnn?ahh Tico, não debocha. me comparar a Van Gogh, por favor!

- mãe, deixa que eu dirijo você. faz assim: coloca azul aqui, verde ali e faz muitos elementos

-hãn(tédio)

 
Não sei porque, talvez só Freud explique, tudo que o Tico diz pra mim tem um peso enorme.

É engraçado, porque ele é o meu caçula, mas o que ele diz eu acredito.

Bom, assim, dirigida por ele, fui fazendo o tal quadro.
Cada vez que ele vinha aqui em casa falava assim:

- mãe, muda a cor do casaco. ahhh essas árvores estão muito pequenas! que isso mãe? quer estragar o quadro?

 Depois dessa tortura que levou um mês, terminei o quadro.

Preciso dizer que não gostei?

Mas, hoje quando olhei a imagem dele, comecei a ter um certo afeto.
Apesar de não ser no jeito que pensei, tem as "pinceladas" do meu caçula

Cozinhar


 
 
Cozinhar pra mim é lógico.
Se quer fazer ensopado ou cozido, ponha na panela: azeite( ou óleo), alho, sal e cebola.
Se quer  assado, tempere com: azeite ( ou óleo), alho, sal e até cebola
Se quer grelhado, tempere com: pouco azeite ( ou óleo) , alho, sal e até uns pedaços de cebola
Vez em quando, pode fazer uma gracinha com algum verdinho: cebolinha, salsa, etc

Agora, sei mais sobre a teoria da criação do universo, do que passar um único, desgraçado, pano de prato.

E não, obrigada. Não quero saber!!!!!

O Papa




Tomei coragem e fui até a rua tentar comer no Biscui ( restaurante de comida caseira aqui do bairro).
A fila ia até a esquina da RuaToneleros.
Grupos de 10 a 15 pessoas, todas de mochila nas costas, jovens, jovens senhoras e bebês.
A grande maioria falando em castelhano.

Pois bem, sou idosa.Isso é um fato (chato, mas é).
O rapaz do restaurante me conhece bem.
A mim e meu marido.
Arrumou uma mesa pra dois idosos rapidamente.
Constrangida ao quadrado!

Mas, fiquei pensando: se há algo do que se aproveitar na velhice, essa prerrogativa é válida, quando há uma invasão na sua cidade.

Continuo constrangida ao quadrado.
Mas já almocei e continuo envelhecendo.
Pelo tamanho da fila, morreria lá!

Tá Chovendo



Pois é, tá chovendo.
Num cantinho bem escondidinho um guarda-chuva.
Esquecido, coitado!
Saí e só tentei abri-lo depois que passei do portão do prédio.

 Existe problema maior do que tentar sair com o guarda-chuva pelo portão do prédio?
Acho que só o interfone:
- Abriuuu?!!!!
- nãooooooo!!!
-ABRIUUUU?
- Nãoooooooooo!!!!!!!!!!

Então, tentei abrir o coitadinho já na rua.
Mas havia um nó.
Aquela cordinha que tem velcro estava amarrada de um tal jeito, sei lá, um nó de escoteiro, marinheiro, da Nasa. Bom, consegui abrí-la já meio molhada.

Depois da minha luta com o nó, veio então a segunda parte: apertar o botão de abrir
As varetas estavam presas num arinho.
Tentei soltá-las, tentei, encharquei, tentei. Consegui soltar as desgraçadas das varetas do desgraçado do guarda-chuva.

Enfim, abri o guarda-chuva.

A parte de cima se desprendeu do cabo, voou uns 5 metros e pousou no chão da calçada!
Fiquei apenas com o cabo do MALDITO do guarda-chuva na mão.
Disfarçando, assobiando e totalmente ENCHARCADA, peguei a parte de cima do NOJENTO do guarda-chuva

Tinha duas opções: ou voltava para casa ou fingia estar dançando frevo.

Um bêbado



Toda rua ( ou bairro) tem um bêbado.
Na minha rua em Jacarepaguá tinha um.
Seu Jorge o nome dele.
Era um amor quando sóbrio.
Quando bebia era um amor também.
Tanto que as crianças da rua quando chovia gritavam pro Seu Jorge:
- Tá chovendo pinga, abre a boca!!
Ele levantava a cabeça pra cima com a boca aberta.

Noutro dia fui pegar minha neta na escola.
Pois bem, fui atravessar a rua e torci o pé.
A dor foi tanta que me agarrei no poste.
Lá fiquei agarrada por um bom tempo até parar de ver umas pintinhas pretas que insistiam em brincar dentro do meu olho.

Quando as pintinhas desapareceram, atravessei a rua cambaleando.

Lembrei do Seu Jorge!!

Meu Cabelo



Afinal meu filho ia fazer um show no Rio!
In box recebi inúmeros recados de que alguns amigos do facebook queriam me encontrar.
Pensei numa das minhas madrugadas: "tenho que melhorar a minha aparência"
Tinha encontrado com Gigi ( a mãe da minha nora).

Ela está com uma franja bem legal.
Além disso, minha irmã também usa.
Poderia ficar legal em mim também! Por que não?
De madrugada, pe
guei a tesoura de papel do meu marido, fui pro banheiro ( tem um espelho grande), puxei o cabelo na frente e zupt  passei a tesoura.
AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!
!!
FIQUEI IGUALZINHA A BETH, A FEIA!!!!!!

Mas até aí tudo bem.
Enrolei o cabelo com grampos e fui dormir rezando!
No dia seguinte (já na sexta de manhã) tirei os grampos e vi que o cabelo ficou menos mal.
Mas resolvi por os óculos ( 6 graus de vista cansada)
AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHH!!!!!
A RAÍZ ESTÁ TOTALMENTE BRANCA!!!!! COMO NÃO VI ISSO?


Bom, pintei o cabelo, mas não secaria a tempo de ir pro show.
Corri então pro cabeleireiro!!
Por sorte a moça que faz escova estava livre.
Aproveitei fiz as unhas também.
Me colocaram de costas pro espelho.
Terminaram as unhas e a "escova" juntas.
Quando me vi no espelho, o estrago já estava feito.
Me arrumei, fui pro show e logo de cara minha irmã não me reconheceu.
Meu marido nem se atreveu a falar nada: ele não é besta!
Mamãe ficou muda, nem um único elogio
Meu filho mais velho falou que estava parecendo Mariah Carey (ainda não sei bem se é elogio)
Mas o pior foi o meu filho mais novo:
- Pô mãe, tá parecendo com Chitãozinho e Xororó

Na Revista

 
 
As luzes já tinham se apagado pro início do primeiro show de voz e violão.
Eu estava na segunda fila.
Já tinha escorregado na cadeira, já tinha soltado a barriga e colocado a bolsa no colo.
Aí vem uma fotógrafa e mi
ra na  minha nora.
Minha nora diz assim:

- Essa é a mãe do Marcelo e esse é o meu pai.
Eu me afasto dela, me encolho toda num cantinho ( pra não sair na foto).
Mal sabia eu que a câmera fotográfica da jornalista tinha uma lente angular que pegava 360º!
A foto saiu então assim:  EU EM PRIMEIRO PLANO ( ENORME, UMA GORDA BARRIGUDA.....IA ESPATIFAR MINHA NORA, SE CAÍSSE EM CIMA DELA)...o pai da minha nora, um lord, LINDO, Clark Kent, magriiiinho.
Fiquei eternizada na Revista Caras, como a sogra ANTA!

Meu pai

 
 
No dia 25 de abril de 1976 meu pai faleceu.
Não estou contando isso porque estou triste.
É claro que queria que ele estivesse aqui.
Mas, mesmo com o avanço da medicina, talvez não estivesse mais.
Teria mais de 90 anos.
Gostaria que ele tivesse conhecido meus filhos (só conheceu o mais velho)
Mas de alguma forma, a história dele continuou em mim, nos meus irmãos, nos meu filhos, nos sobrinhos, na minha neta.

Estou contando isso, porque gosto de me lembrar dele.
Gosto de vê-lo um pouco, em cada um de nós.
E a história irá se multiplicar e se multiplicar até ninguém saber quem somos nós