quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Quem procura acha!


- Ana, depois da Copa, quero que faça esse exame
- porque Dra tô morrendo??
- não, rotina. bobagem. o exame é tranquilinho, chama-se Angiotomografia Coronária
-hummmm

Depois da Copa, liguei para clínica pra marcar.
Minha médica queria com um determinado médico.
Conversei com a mocinha ao telefone e, depois de marcado para 7:45 da manhã (horário que con
sidero um atentado ao meu sono), ela me disse que mandaria o preparo por e-mail.
Aí, nesse exato momento, comecei a me arrepender de ter marcado o diabo do exame.
Não tô sentindo nada, nem tenho nenhuma suspeita de nada e além disso o “preparo” para o exame vem pelo e-mail!!!!!!
COMO ASSIM? QUE PREPARO?

Chegou o “preparo”.
Nada de mais.
Algum jejum, nenhuma cafeína. Tudo fácil.

Bom, meia hora antes, teria que chegar na clínica e cheguei.
Naturalmente, só fui atendida 1h e 15 min depois do horário marcado.
Segundo estágio do meu arrependimento.

Fui chamada para entrar num mundo paralelo, parecendo que a porta se abriria para a fábrica da Friboi e que Tony Ramos iria me receber.
Me recebeu uma mocinha simpática.
Colocou no meu dedo um aparelhinho para saber meu batimento cardíaco.
- hiiiiii....81, precisamos que esteja a 59
-hummmm
- vamos Dona Ana, tome esses SEIS comprimidinhos
- COMO ASSIM? diminuir meu batimento ou me colocar em coma?

Meia hora depois, foi a vez de enfiar uma cânula na minha veia.
Parecia canudinho do Todinho....um horror!!!!
Depois de me furar (se é que um rombo pode ser chamado de um furinho) nos 2 braços, mede de novo meus batimentos.... 47
Aplica na veia mais uma ampola de um remédio.
- QUE REMÉDIO É ESSE?
- Para baixar mais seu batimento
- hummmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm

Fomos então eu, ela e o canudinho de Todinho do meu braço para sala de exame.
Deitei numa maca, e uma máquina ficou me scaneando.(ou podem usar outra palavra parecida, se quiserem).

Uns 10 minutos depois, a mocinha simpática entra e aplica na minha veia Iodo.
O mundo ferveu, quer dizer, meu corpo parecia que tinha entrado em combustão.
Sobrevivi.

Tudo acabado, concluí: só mortos deveriam fazer esse exame.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Quase não dormi




Minha noite pós jogo na derrota de 7x1 do Brasil para Alemanha:

Marcelo me liga de Portugal:
- mãe, que merda, que merda, que merda
eu
- meu filho, tô chateada. ainda mais com as questões políticas
- mãezinha, fica assim não, nós somos a média do inconsciente coletivo, ficamos perplexo na nossa avaliação coletiva, na nossa incapacidade do sonho e desilusão.
eu: tá, meu amor, fala com seu pai

Tico, liga pro fixo, pro celular do pai, pro meu celular, manda e-mail, SMS, sinal de fumaça, tambor

Ernesto com um telefone em cada ouvido (Tico e Marcelo), escuta Leo gritar que é o fim da era Felipão, Parreira, esses FDPs

Minha mãe liga e pergunta o que aconteceu com o Brasil: DESLIGOU A TV ANTES DO JOGO COMEÇAR.
-minha filha, liga pra sua irmã, ela está chorando.

Minha neta está feliz! Afinal o goleiro-gato, da seleção alemã, continua na Copa.

Meu marido profetisa:
“Essa é minha última Copa, por isso meus filhos querem conversar comigo”

Silêncio sepulcral no Bairro Peixoto.

MEUS VIZINHOS DO 3º ANDAR: ALEMANHA!!! ALEMANHA!!! ALEMANHA!!!!!

Entenderam porque acordei cedo?

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Nomes

 
Minha geladeira que tem um ano e meio pifou.
Sem mais nem menos apagou.
Não gelava. Nada.
Zero.
Liguei para a assistência técnica.
Hoje mandaram um técnico.
Gente boa pra caramba. Super simpático e competente.
Todo problema resolvido.
Ao me despedir, perguntei seu nome: Sérliton. Sim, Sérliton
Bom, nome é nome. A gente fica é calada.
Mas, me lembrou a 1ª exposição que fiz no Museu Nacional de Belas Artes em 2002.
Estava lá, fazendo as honras do evento, quando chegou turma de uma escola.
Eram crianças com mais ou menos uns 9 anos.
Todos se interessaram muito pelos quadros.
Queriam meu autógrafo.
Como não tive grana pra fazer o catálogo da exposição, resolvi dar os autógrafos na sobra de convites que tinha.
Fizeram uma fila e cada um falou seu nome para mim.
- Qual seu nome?
- Suelen
- Se escreve com Su...?
- Nãooooo ..né? SHWELLENN
- E o seu?
- Eliane
- Se escreve com E...?
- Nãoooo, né? HELLYANNE
Vinte cinco crianças e muitos W, Y, LL depois....
Um menininho lindo, mulato, cabelo sarara e olhos azuis me pergunta:
- Você que faz isso?
- Sim
- E você ganha dinheiro com isso?
- Pretendo
- Maneiro

- Qual é seu nome?
- Bil Clinton da Silva

Dia estafante aquele!

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Meio Torto



 

Minha sogra era portuguesa e estudou pouco.
Tinha até o segundo ano primário.
Quando os netos começaram a falar ela os corrigia.
Não passava um único erro no português.
Um verbo mal conjugado então era considerado um assassinato da língua.
Quando havia alguma dúvida na família quanto a como se escrevia uma tal palavra, todos recorriam a ela.
Na dúvida do significado ela nos mandava procurar o "pai dos burros" (o dicionário ).
Não tenho formação em letras, mas procuro escrever sem erros.
É claro que nem sempre consigo, ainda mais com a nova ortografia (fui alfabetizada no século passado).
Mas sinceramente eu acho que escrever errado não é pecado.
Às vezes, um lindo pensamento está escrito num português torto
.

Lisboa

 
 


Fui no Oceanário de Lisboa.
Gostei dos peixinhos, peixões, tubarões e lontras. Tudo muito bonito.
Mas parece incrível, o que mais me chamou a atenção foram as poesias de Sophia de Mello Breyner Andresen.
Por todo o Oceanário existem placas com poesias dela.
Não consegui fotografar até porque é proibido flash.
Como é escuro o flash não me obedeceu.
Tirei uma única foto e
parei antes de levar uma bronca com toda a razão. Coisa incivilizada! (tirar fotos com flash onde não pode)
Claro que o tio Google está aí pra nós ( eu pelo menos), simples mortais ignorantes conhecermos alguma coisa.
Pois bem, achei quem era e algumas (muitas) poesias:

"Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu no ano de 1919 e faleceu em 2004.
A poesia de Sophia está profundamente marcada pela sua infância e juventude, por valores como a justiça e, pelo contato com a Natureza, muito especialmente com o Mar.
Publicou mais de duas dezenas de livros de poesia, devendo ser considerada como uma das maiores e mais eloquentes vozes da poesia portuguesa contemporânea.
Há nela uma sensibilidade, que só pode ser apreciada de modo global, ou seja, pela leitura da sua obra poética."

Eis uma que achei linda, entre tantas:

MAR SONORO
Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho.
Que momentos há em que suponho
Seres um milagre criado só para mim.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

O Pensador

 
 
Morei numa casa enorme num subúrbio do Rio até os 5 anos.
Me lembro dela muito bem.
Tinha uns 3 quartos, varanda nos fundos e um quintal grande.
Mas não morávamos sozinhos.
Tinha junto com a gente a família de um tio ( irmão do meu pai).
Não lembro de interagir com nenhum membro da família.
Eu tinha um mundo muito particular.
Explorava a casa como um reino encantado.
Tinha uma horta onde uma vez acharam uma cobra sem cabeça.
Nem sei se era sem cabeça mesmo, mas assim tenho na minha memória.
A cozinha era tão grande que não conseguia de uma ponta ver o outro lado.
Tinha uma parreira cujas as uvas nunca chegavam a crescer. Eu as comias bem pequeninas
Na varanda,havia um muro de pequenas pilastras romanas com espaço entre elas.
 
Certa vez resolvi enfiar a cabeça entre as pilastras.
Nem sei bem pra que.
Fiquei com a cabeça presa, claro!
Mas como tinha um mundo muito particular.
 
Bom, é a única vez que lembro das pessoas que moravam comigo.
Uma gritaria infernal!
Todos tentando me puxar pelo bumbum.
Minha mãe chorava.
Meu pai me dava bronca de nervoso.
Meu tio/padrinho meio em desespero.
Minha irmã engatinhava e meu primo chorava.
Eu apenas pensava.
 
Depois de uma meia hora nessa tentativa, desistiram
A vizinhança chamou o corpo de bombeiros.
Todos foram pra varanda da minha casa a espera de socorro.
E eu pensando entre as pilastras.
 
Um tempinho depois, ouvi o barulho das sirenes.
Ouvi os passos dos bombeiros, até que vi de canto de olho as botas de um deles.
Mexi a cabeça e disse:
- ihhh ....saiu!
 
Foi o maior esporro coletivo que já levei na vida
 
 

domingo, 13 de abril de 2014

Salve Jorge




Eu tive um tio.
Irmão da minha mãe.
Ele era a pessoa mais legal e engraçada que conheci.
Toda família tem um tio legal, mas como esse era o meu, era o mais legal de todos
O nome dele era Jorge.
Nada pra ele era discreto.
Tudo era grandioso.
Ele comprava roupas de baixo na rua popular aqui no Rio de Janeiro.
A Rua da Alfândega (o equivalente a 25 de março de SP).
Mas ele não comprava 1 cueca só, comprava 25 de uma vez.
Comprava 25 pares de meia também.
O engraçado é que a toda roupa dele, mas toda mesmo combinava. Meias com cuecas e cintos. Calça com blusa e sapatos.
Como a compra era maciça, sempre dizia que tinha 90 pares de sapato, 110 blusas, 120 cuecas, 200 cintos e etc. Tudo da rua da Alfandêga.
Era uma figura!
Além disso, em nenhum dos meus aniversários de criança ele deixou de comparecer. E comprava todos os presentes na rua da Alfandega também. E não era só uma boneca. Era aquele saco, com 25 bonecas de plástico.
Adorávamos os causos dele.
Havia sido alcóolatra e foi do AAA por 20 anos.
Por isso, tinha milhões de histórias pra contar sobre as bobagens que fazia quando ainda bebia.
Ainda bem que ele nunca mais bebeu.
Como ele dormia algumas vezes na minha casa, era todo arrumado e combinandinho que deitava. Só acordava de manhã e lavava os olhos.
E quando se olhava no espelho dizia: " A velhice é uma merda"!
Não entendia muito bem, porque era muito nova (uns 30 anos)
Hoje claro que entendo bem e virou até um código de família: "a velhice é uma merda"
Morreu aos 64 anos de um câncer no fígado.
Foi rápido e a última vez que falei com ele ao telefone já internado me disse:
- "Tô todo amarelo, mas meu pijama é de um amarelo tão espetacular que combina exatamente com minha pele.
Saudades do tio Jorge e como é bom ter tido na vida alguém como ele!

sábado, 8 de março de 2014

Poder

 
 
Ontem, fui ao médico outra vez ( para ver o joelho).
Minha neta foi comigo.
Sofremos na rua um pequeno assalto.
Digo pequeno, porque não foi armado, não nos agrediu fisicamente.
O rapaz, “pediu” com insistência todo o dinheiro que eu tinha na carteira.
Meu filho (pai da minha neta) perguntou:
- Mãe, se fosse um homem esse rapaz teria tido a mesma insistência?

O interessante nisso, foi a reação da minha neta.
Medo nenhum.
Sei que é a imaturidade da adolescência.
Mas fico pensando se não é porque eu sempre digo pra ela, que nós mulheres somos fortes.

Hoje, em que se comemora o dia da mulher, prefiro sempre pensar nas conquistas.
Prefiro pensar, na matemática, na física, na maestrina, na poeta, na dona de casa, na médica, na pesquisadora....
Prefiro pensar que todas nós, podemos tudo!

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Floresta

 
 
Meu filho me ligou:

- mãe, pode vir aqui em casa para me ajudar na mudança? meia horinha só, tenho que sair pra gravar um programa.não quero deixar os homens da mudança sozinhos

Eu:

-Táaaaa

Vesti uma bermuda velha, camisa verde que uso para praia e um chinelo de dedo (dessa vez de couro).
Cabelo desgrenhado, branco na raiz.

Quando cheguei no apartamento dele a mudança já havia terminado.
Não era mais necessária minha presença.

 -mãe, dou uma carona até o Jardim Botânico, dali você pega um táxi.

 
Ok. Tranquilinha subi na van.
Chegamos na porta da Globo saltei e fui andando pro ponto do táxi

 
-mãe, não quer assistir? você fica num cantinho do estúdio, ninguém vai te ver.

 
- Táaaaaaa, eu assisto. tem certeza que ninguém vai me ver?

 

Fiquei sentada numa cadeira no fundo do estúdio.
Tinha uma Tv Full HD de 250 polegadas ao meu lado.
Assistia o programa por ela.
Só via o palco com convidados e o meu filho tocando suas músicas.
Tudo sob controle até que a apresentadora do programa diz:

- Nosssa!!!!!! estou impressionada como sua mãe sabe todas suas músicas!!!!!

Todas, masTODAS as câmeras viraram pra mim. Ai meu Deus!
Eu de canto de olho, olho para aquela TV Full HD de 250 polegadas e só consigo enxergar a "floresta amazônica" (minha blusa verde) ocupando a tela de ponta a ponta.
Meu ombro ia de um lado ao outro da tela e eu rezava baixinho: não mostra o meu pé por favor, não mostra o meu pé, não mostra o meu pé.

O resultado disso está nesse vídeo:

 

Vesga


 
 
Fui vesga.
Estrabismo momentâneo do olho esquerdo segundo o oftalmologista.
Na época do diagnóstico tinha 6 anos.
Além disso, sabiamente meu olho estava parando de enxergar.
Vista preguiçosa.
Cruel!

 A única maneira de consertar era o uso de óculos e tapar a "vista boa"( a direita) com esparadrapo.
Assassinato estético!

Começamos então um tratamento de exercício para o olhos formarem o ângulo certo.
Consistia numa maquininha tipo binóculo.
Em um dos olhos era a imagem de uma gaiola, no outro um passarinho.
Tinha que fazer o passarinho entrar na gaiola ou o leão entrar na jaula ou a girafa no cercado.
Enfim, era um bichinho preso por dia.
Sofria com o exercício chato e sofria em prender os bichinhos.

Fiz isso até os 13 anos.
Imagina que apelidos tive na adolescência!

Essa técnica só prendeu os animais, possivelmente não me deixou cega, mas não curou o estrabismo.
Operar então era a 2ª etapa.

Há 50 anos atrás não dá pra pensar que era moleza isso.
Fiz protestos, mas minha mãe me obrigou a operar.
Operei, né? Fazer o quê?

Mais três anos colocando bichinhos na gaiola!
Não perdi a capacidade de visão, mas continuo ligeiramente vesga.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Dezenove


 
 
Sempre ouvi, minha mãe contar que tinha levado 19 tombos na rua.
É um bocado de tombo!
- Também calço 33!  Diz ela.

De um tempo pra cá minha irmã está quase alcançando o recorde da minha mãe.
Correndo contra o tempo, ela leva pelo menos, um tombo por mês.

Eu não.
Quase não caí nessa longa vida.
Mas acho que não fugirei a sina.

Fui até a farmácia na esquina da minha casa.
Como sempre não me enfeitei muito para tal.
Ao sair tropecei no degrau, dei três cambalhotas e me estatelei na porta.

A farmácia fica ao lado de um bar de pinguços.
Situação complicada me levantar do chão (para os pinguços).

Depois de muito segura aqui, pega dali, consegui sozinha me levantar.
Saí mancando com vergonha quase chorando.
Mas fui caminhando até em casa.

- benhê, caí na rua
- ANA, VOU TE INTERDITAR!!!!!
- mas
- NÃO É POSSÍVEL, VOCÊ CAIU 2 VEZES!!!!

 Pois é, faltam ainda 17!

 

Idiota



 

 

Tinha uns 5 ou 6 anos quando fomos convidados para uma festa na casa do gerente da agência onde meu pai trabalhava.
Era um dos filhos dele que fazia 10 anos.
De comida o que me lembro são os doces.
Mas, o acontecimento principal era o m
ágico.
Na garagem da casa montaram um teatro.
Cadeiras de plástico enfileiradas e na frente um pequeno palco.
Sentei numa das filas do meio.
O mágico fez todas as mágicas já conhecidas.
Tirou coelho da cartola, fez desaparecer cartas, trocou bolinhas de lugar e etc.
O último número era o principal.
Chamou um menino da plateia e o fez beber um copo d’água.
Depois enrolou um jornal, colocou na frente da bermuda do menino e também uma jarra embaixo.
Virei para trás, tapei os olhos e disse: – Aiiiii QUE VERGONHA!!!
O menino que estava atrás de mim gritou no mesmo tom: –Aiiiii QUE IDIOTA!!!!
Mamãe me chamou nesse instante para tirar essa foto.
Eu naturalmente sou a com cara de idiota.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Inocência



Minha mãe quando solteira tinha algumas amigas.
Uma delas ficou muito rica.
Morava na Tijuca, bairro de classe média alta do Rio nos anos 50/60.

Um dia fomos convidadas para o aniversário de 15 anos da filha dela.
Eu tinha em torno de 10 anos.
Nossa família não era pobre, mas éramos simples.
Portanto comprar roupas e sapatos para tal evento ficava caro para nós.
Mas fomos, todos muito arrumados.
Afinal, era festa da filha da amiga rica da minha mãe!

A festa estava chata demais.
Só tinha velhos.
Sim, 15 anos já eram velhos pra mim.
Mas, num dado momento foram todos ( meninos e meninas) para dentro de um dos quartos.
Me chamaram também.
Me achei o máximo!
Explicaram a brincadeira para mim.
Não entendi muito bem, mas fiz cara de inteligente.
Sortearam um nome e o primeiro que saiu foi o meu.
Perguntaram:
- pera, uva ou maçã?
Respondi: – tangerina
- NÃO
- abacaxi
- Nãoooooooo
- banana
- NÃOOOOOOOO
não
não
e não
garota burra!

Me expulsaram do quarto!
Festa desagradável!

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Eu e meu Cabelo

 
 



Há alguns (muitos) anos atrás estava me achando velha, gorda, boba e chata.
Resolvi então cortar o cabelo.
Marquei num salão chiquérrimo, de um shopping chiquérrimo da Barra da Tijuca.

O preço na segunda feira era a quinta parte do preço.
Me atendeu um rapazinho.
Expliquei tudo que queria.
Como queria.

Não queria a orelha de fora nem a nuca batidinha.
Olhamos revistas e escolhemos o corte.

Pois bem, ele rodou a cadeira de costas pro espelho e começou: tec,tec,tec

Fui ficando com sono. Dormi.
Melhor dizendo, cochilei.

Quando despertei o tec tec continuava.
Comecei a reparar que havia algo errado, porque as pessoas passavam por mim de boca aberta e olhando para o chão.
Mas tudo bem.

No final ele rodou a cadeira e perguntou: e aí?
- E AÍ CARA PÁLIDA, PEGA PEDACINHO POR PEDACINHO DO MEU CABELO E COLA TUDO NA MINHA CABEÇA.
SEU DESGRAÇADO, AGORA ALÉM DE VELHA, GORDA, BOBA E CHATA, EU TÔ CARECA TAMBÉM!!!!

Mas não falei nada.

Corri até o banheiro, mas antes passei pela lanchonete e peguei um saco de papel vazio.
As moças que estavam no banheiro me convenceram que não era discreto eu enfiar o saco na cabeça e fazer dois buracos nos olhos.

Consegui correr até meu carro sem encontrar com ninguém conhecido.
Mas ao entrar na garagem do meu prédio, o porteiro veio correndo porque pensou que eu fosse a minha mãe.

Convenhamos que alguém com mais ou menos 50 anos ser confundida com a mãe fica com 250 anos.

AGORA ESTAVA VELHA, GORDA, BOBA, CHATA, CARECA E COM 250 ANOS.

Entrei em casa e meu filho gritou:
-QUERO MINHA MÃE DE VOLTA!

VELHA,GORDA, BOBA, CHATA, CARECA, 250 ANOS E EU NÃO ERA EU!

 Meu marido chegou e disse:
-Que bobagem você fez!!!

VELHA, GORDA, BOBA, CHATA, CARECA, 250 ANOS, NÃO ERA EU E AINDA POR CIMA BURRA!!!!

Levei dois anos pra ser apenas velha, gorda, boba e chata outra vez!

sábado, 18 de janeiro de 2014

Nosso Quadro


 
 
Vi na pracinha do meu bairro uma mulher sentada num dos bancos.
Tinha um olhar triste, meio perdido.

Por aqui, tenho reparado, tem muita gente assim.
Não sei se é um bairro de solitários ou meu olhar sempre procura pessoas assim.

Resolvi fazer um quadro com essa mulher.
Fiz o esboço.
A mulher no banco, um elemento ao seu lado e tinha pensado um fundo quase vazio.

Aí, meu filho mais novo (meu grilo falante) viu o esboço:

- mãe, que linda essa mulher!
porque você não faz igual a Van Gogh, faz um fundo cheio de flores, com muitas e muitas coisas

-hãnnn?ahh Tico, não debocha. me comparar a Van Gogh, por favor!

- mãe, deixa que eu dirijo você. faz assim: coloca azul aqui, verde ali e faz muitos elementos

-hãn(tédio)

 
Não sei porque, talvez só Freud explique, tudo que o Tico diz pra mim tem um peso enorme.

É engraçado, porque ele é o meu caçula, mas o que ele diz eu acredito.

Bom, assim, dirigida por ele, fui fazendo o tal quadro.
Cada vez que ele vinha aqui em casa falava assim:

- mãe, muda a cor do casaco. ahhh essas árvores estão muito pequenas! que isso mãe? quer estragar o quadro?

 Depois dessa tortura que levou um mês, terminei o quadro.

Preciso dizer que não gostei?

Mas, hoje quando olhei a imagem dele, comecei a ter um certo afeto.
Apesar de não ser no jeito que pensei, tem as "pinceladas" do meu caçula

Cozinhar


 
 
Cozinhar pra mim é lógico.
Se quer fazer ensopado ou cozido, ponha na panela: azeite( ou óleo), alho, sal e cebola.
Se quer  assado, tempere com: azeite ( ou óleo), alho, sal e até cebola
Se quer grelhado, tempere com: pouco azeite ( ou óleo) , alho, sal e até uns pedaços de cebola
Vez em quando, pode fazer uma gracinha com algum verdinho: cebolinha, salsa, etc

Agora, sei mais sobre a teoria da criação do universo, do que passar um único, desgraçado, pano de prato.

E não, obrigada. Não quero saber!!!!!

O Papa




Tomei coragem e fui até a rua tentar comer no Biscui ( restaurante de comida caseira aqui do bairro).
A fila ia até a esquina da RuaToneleros.
Grupos de 10 a 15 pessoas, todas de mochila nas costas, jovens, jovens senhoras e bebês.
A grande maioria falando em castelhano.

Pois bem, sou idosa.Isso é um fato (chato, mas é).
O rapaz do restaurante me conhece bem.
A mim e meu marido.
Arrumou uma mesa pra dois idosos rapidamente.
Constrangida ao quadrado!

Mas, fiquei pensando: se há algo do que se aproveitar na velhice, essa prerrogativa é válida, quando há uma invasão na sua cidade.

Continuo constrangida ao quadrado.
Mas já almocei e continuo envelhecendo.
Pelo tamanho da fila, morreria lá!

Tá Chovendo



Pois é, tá chovendo.
Num cantinho bem escondidinho um guarda-chuva.
Esquecido, coitado!
Saí e só tentei abri-lo depois que passei do portão do prédio.

 Existe problema maior do que tentar sair com o guarda-chuva pelo portão do prédio?
Acho que só o interfone:
- Abriuuu?!!!!
- nãooooooo!!!
-ABRIUUUU?
- Nãoooooooooo!!!!!!!!!!

Então, tentei abrir o coitadinho já na rua.
Mas havia um nó.
Aquela cordinha que tem velcro estava amarrada de um tal jeito, sei lá, um nó de escoteiro, marinheiro, da Nasa. Bom, consegui abrí-la já meio molhada.

Depois da minha luta com o nó, veio então a segunda parte: apertar o botão de abrir
As varetas estavam presas num arinho.
Tentei soltá-las, tentei, encharquei, tentei. Consegui soltar as desgraçadas das varetas do desgraçado do guarda-chuva.

Enfim, abri o guarda-chuva.

A parte de cima se desprendeu do cabo, voou uns 5 metros e pousou no chão da calçada!
Fiquei apenas com o cabo do MALDITO do guarda-chuva na mão.
Disfarçando, assobiando e totalmente ENCHARCADA, peguei a parte de cima do NOJENTO do guarda-chuva

Tinha duas opções: ou voltava para casa ou fingia estar dançando frevo.

Um bêbado



Toda rua ( ou bairro) tem um bêbado.
Na minha rua em Jacarepaguá tinha um.
Seu Jorge o nome dele.
Era um amor quando sóbrio.
Quando bebia era um amor também.
Tanto que as crianças da rua quando chovia gritavam pro Seu Jorge:
- Tá chovendo pinga, abre a boca!!
Ele levantava a cabeça pra cima com a boca aberta.

Noutro dia fui pegar minha neta na escola.
Pois bem, fui atravessar a rua e torci o pé.
A dor foi tanta que me agarrei no poste.
Lá fiquei agarrada por um bom tempo até parar de ver umas pintinhas pretas que insistiam em brincar dentro do meu olho.

Quando as pintinhas desapareceram, atravessei a rua cambaleando.

Lembrei do Seu Jorge!!

Meu Cabelo



Afinal meu filho ia fazer um show no Rio!
In box recebi inúmeros recados de que alguns amigos do facebook queriam me encontrar.
Pensei numa das minhas madrugadas: "tenho que melhorar a minha aparência"
Tinha encontrado com Gigi ( a mãe da minha nora).

Ela está com uma franja bem legal.
Além disso, minha irmã também usa.
Poderia ficar legal em mim também! Por que não?
De madrugada, pe
guei a tesoura de papel do meu marido, fui pro banheiro ( tem um espelho grande), puxei o cabelo na frente e zupt  passei a tesoura.
AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!
!!
FIQUEI IGUALZINHA A BETH, A FEIA!!!!!!

Mas até aí tudo bem.
Enrolei o cabelo com grampos e fui dormir rezando!
No dia seguinte (já na sexta de manhã) tirei os grampos e vi que o cabelo ficou menos mal.
Mas resolvi por os óculos ( 6 graus de vista cansada)
AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHH!!!!!
A RAÍZ ESTÁ TOTALMENTE BRANCA!!!!! COMO NÃO VI ISSO?


Bom, pintei o cabelo, mas não secaria a tempo de ir pro show.
Corri então pro cabeleireiro!!
Por sorte a moça que faz escova estava livre.
Aproveitei fiz as unhas também.
Me colocaram de costas pro espelho.
Terminaram as unhas e a "escova" juntas.
Quando me vi no espelho, o estrago já estava feito.
Me arrumei, fui pro show e logo de cara minha irmã não me reconheceu.
Meu marido nem se atreveu a falar nada: ele não é besta!
Mamãe ficou muda, nem um único elogio
Meu filho mais velho falou que estava parecendo Mariah Carey (ainda não sei bem se é elogio)
Mas o pior foi o meu filho mais novo:
- Pô mãe, tá parecendo com Chitãozinho e Xororó

Na Revista

 
 
As luzes já tinham se apagado pro início do primeiro show de voz e violão.
Eu estava na segunda fila.
Já tinha escorregado na cadeira, já tinha soltado a barriga e colocado a bolsa no colo.
Aí vem uma fotógrafa e mi
ra na  minha nora.
Minha nora diz assim:

- Essa é a mãe do Marcelo e esse é o meu pai.
Eu me afasto dela, me encolho toda num cantinho ( pra não sair na foto).
Mal sabia eu que a câmera fotográfica da jornalista tinha uma lente angular que pegava 360º!
A foto saiu então assim:  EU EM PRIMEIRO PLANO ( ENORME, UMA GORDA BARRIGUDA.....IA ESPATIFAR MINHA NORA, SE CAÍSSE EM CIMA DELA)...o pai da minha nora, um lord, LINDO, Clark Kent, magriiiinho.
Fiquei eternizada na Revista Caras, como a sogra ANTA!

Meu pai

 
 
No dia 25 de abril de 1976 meu pai faleceu.
Não estou contando isso porque estou triste.
É claro que queria que ele estivesse aqui.
Mas, mesmo com o avanço da medicina, talvez não estivesse mais.
Teria mais de 90 anos.
Gostaria que ele tivesse conhecido meus filhos (só conheceu o mais velho)
Mas de alguma forma, a história dele continuou em mim, nos meus irmãos, nos meu filhos, nos sobrinhos, na minha neta.

Estou contando isso, porque gosto de me lembrar dele.
Gosto de vê-lo um pouco, em cada um de nós.
E a história irá se multiplicar e se multiplicar até ninguém saber quem somos nós