quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Quem procura acha!


- Ana, depois da Copa, quero que faça esse exame
- porque Dra tô morrendo??
- não, rotina. bobagem. o exame é tranquilinho, chama-se Angiotomografia Coronária
-hummmm

Depois da Copa, liguei para clínica pra marcar.
Minha médica queria com um determinado médico.
Conversei com a mocinha ao telefone e, depois de marcado para 7:45 da manhã (horário que con
sidero um atentado ao meu sono), ela me disse que mandaria o preparo por e-mail.
Aí, nesse exato momento, comecei a me arrepender de ter marcado o diabo do exame.
Não tô sentindo nada, nem tenho nenhuma suspeita de nada e além disso o “preparo” para o exame vem pelo e-mail!!!!!!
COMO ASSIM? QUE PREPARO?

Chegou o “preparo”.
Nada de mais.
Algum jejum, nenhuma cafeína. Tudo fácil.

Bom, meia hora antes, teria que chegar na clínica e cheguei.
Naturalmente, só fui atendida 1h e 15 min depois do horário marcado.
Segundo estágio do meu arrependimento.

Fui chamada para entrar num mundo paralelo, parecendo que a porta se abriria para a fábrica da Friboi e que Tony Ramos iria me receber.
Me recebeu uma mocinha simpática.
Colocou no meu dedo um aparelhinho para saber meu batimento cardíaco.
- hiiiiii....81, precisamos que esteja a 59
-hummmm
- vamos Dona Ana, tome esses SEIS comprimidinhos
- COMO ASSIM? diminuir meu batimento ou me colocar em coma?

Meia hora depois, foi a vez de enfiar uma cânula na minha veia.
Parecia canudinho do Todinho....um horror!!!!
Depois de me furar (se é que um rombo pode ser chamado de um furinho) nos 2 braços, mede de novo meus batimentos.... 47
Aplica na veia mais uma ampola de um remédio.
- QUE REMÉDIO É ESSE?
- Para baixar mais seu batimento
- hummmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm

Fomos então eu, ela e o canudinho de Todinho do meu braço para sala de exame.
Deitei numa maca, e uma máquina ficou me scaneando.(ou podem usar outra palavra parecida, se quiserem).

Uns 10 minutos depois, a mocinha simpática entra e aplica na minha veia Iodo.
O mundo ferveu, quer dizer, meu corpo parecia que tinha entrado em combustão.
Sobrevivi.

Tudo acabado, concluí: só mortos deveriam fazer esse exame.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Quase não dormi




Minha noite pós jogo na derrota de 7x1 do Brasil para Alemanha:

Marcelo me liga de Portugal:
- mãe, que merda, que merda, que merda
eu
- meu filho, tô chateada. ainda mais com as questões políticas
- mãezinha, fica assim não, nós somos a média do inconsciente coletivo, ficamos perplexo na nossa avaliação coletiva, na nossa incapacidade do sonho e desilusão.
eu: tá, meu amor, fala com seu pai

Tico, liga pro fixo, pro celular do pai, pro meu celular, manda e-mail, SMS, sinal de fumaça, tambor

Ernesto com um telefone em cada ouvido (Tico e Marcelo), escuta Leo gritar que é o fim da era Felipão, Parreira, esses FDPs

Minha mãe liga e pergunta o que aconteceu com o Brasil: DESLIGOU A TV ANTES DO JOGO COMEÇAR.
-minha filha, liga pra sua irmã, ela está chorando.

Minha neta está feliz! Afinal o goleiro-gato, da seleção alemã, continua na Copa.

Meu marido profetisa:
“Essa é minha última Copa, por isso meus filhos querem conversar comigo”

Silêncio sepulcral no Bairro Peixoto.

MEUS VIZINHOS DO 3º ANDAR: ALEMANHA!!! ALEMANHA!!! ALEMANHA!!!!!

Entenderam porque acordei cedo?

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Nomes

 
Minha geladeira que tem um ano e meio pifou.
Sem mais nem menos apagou.
Não gelava. Nada.
Zero.
Liguei para a assistência técnica.
Hoje mandaram um técnico.
Gente boa pra caramba. Super simpático e competente.
Todo problema resolvido.
Ao me despedir, perguntei seu nome: Sérliton. Sim, Sérliton
Bom, nome é nome. A gente fica é calada.
Mas, me lembrou a 1ª exposição que fiz no Museu Nacional de Belas Artes em 2002.
Estava lá, fazendo as honras do evento, quando chegou turma de uma escola.
Eram crianças com mais ou menos uns 9 anos.
Todos se interessaram muito pelos quadros.
Queriam meu autógrafo.
Como não tive grana pra fazer o catálogo da exposição, resolvi dar os autógrafos na sobra de convites que tinha.
Fizeram uma fila e cada um falou seu nome para mim.
- Qual seu nome?
- Suelen
- Se escreve com Su...?
- Nãooooo ..né? SHWELLENN
- E o seu?
- Eliane
- Se escreve com E...?
- Nãoooo, né? HELLYANNE
Vinte cinco crianças e muitos W, Y, LL depois....
Um menininho lindo, mulato, cabelo sarara e olhos azuis me pergunta:
- Você que faz isso?
- Sim
- E você ganha dinheiro com isso?
- Pretendo
- Maneiro

- Qual é seu nome?
- Bil Clinton da Silva

Dia estafante aquele!

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Meio Torto



 

Minha sogra era portuguesa e estudou pouco.
Tinha até o segundo ano primário.
Quando os netos começaram a falar ela os corrigia.
Não passava um único erro no português.
Um verbo mal conjugado então era considerado um assassinato da língua.
Quando havia alguma dúvida na família quanto a como se escrevia uma tal palavra, todos recorriam a ela.
Na dúvida do significado ela nos mandava procurar o "pai dos burros" (o dicionário ).
Não tenho formação em letras, mas procuro escrever sem erros.
É claro que nem sempre consigo, ainda mais com a nova ortografia (fui alfabetizada no século passado).
Mas sinceramente eu acho que escrever errado não é pecado.
Às vezes, um lindo pensamento está escrito num português torto
.

Lisboa

 
 


Fui no Oceanário de Lisboa.
Gostei dos peixinhos, peixões, tubarões e lontras. Tudo muito bonito.
Mas parece incrível, o que mais me chamou a atenção foram as poesias de Sophia de Mello Breyner Andresen.
Por todo o Oceanário existem placas com poesias dela.
Não consegui fotografar até porque é proibido flash.
Como é escuro o flash não me obedeceu.
Tirei uma única foto e
parei antes de levar uma bronca com toda a razão. Coisa incivilizada! (tirar fotos com flash onde não pode)
Claro que o tio Google está aí pra nós ( eu pelo menos), simples mortais ignorantes conhecermos alguma coisa.
Pois bem, achei quem era e algumas (muitas) poesias:

"Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu no ano de 1919 e faleceu em 2004.
A poesia de Sophia está profundamente marcada pela sua infância e juventude, por valores como a justiça e, pelo contato com a Natureza, muito especialmente com o Mar.
Publicou mais de duas dezenas de livros de poesia, devendo ser considerada como uma das maiores e mais eloquentes vozes da poesia portuguesa contemporânea.
Há nela uma sensibilidade, que só pode ser apreciada de modo global, ou seja, pela leitura da sua obra poética."

Eis uma que achei linda, entre tantas:

MAR SONORO
Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho.
Que momentos há em que suponho
Seres um milagre criado só para mim.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

O Pensador

 
 
Morei numa casa enorme num subúrbio do Rio até os 5 anos.
Me lembro dela muito bem.
Tinha uns 3 quartos, varanda nos fundos e um quintal grande.
Mas não morávamos sozinhos.
Tinha junto com a gente a família de um tio ( irmão do meu pai).
Não lembro de interagir com nenhum membro da família.
Eu tinha um mundo muito particular.
Explorava a casa como um reino encantado.
Tinha uma horta onde uma vez acharam uma cobra sem cabeça.
Nem sei se era sem cabeça mesmo, mas assim tenho na minha memória.
A cozinha era tão grande que não conseguia de uma ponta ver o outro lado.
Tinha uma parreira cujas as uvas nunca chegavam a crescer. Eu as comias bem pequeninas
Na varanda,havia um muro de pequenas pilastras romanas com espaço entre elas.
 
Certa vez resolvi enfiar a cabeça entre as pilastras.
Nem sei bem pra que.
Fiquei com a cabeça presa, claro!
Mas como tinha um mundo muito particular.
 
Bom, é a única vez que lembro das pessoas que moravam comigo.
Uma gritaria infernal!
Todos tentando me puxar pelo bumbum.
Minha mãe chorava.
Meu pai me dava bronca de nervoso.
Meu tio/padrinho meio em desespero.
Minha irmã engatinhava e meu primo chorava.
Eu apenas pensava.
 
Depois de uma meia hora nessa tentativa, desistiram
A vizinhança chamou o corpo de bombeiros.
Todos foram pra varanda da minha casa a espera de socorro.
E eu pensando entre as pilastras.
 
Um tempinho depois, ouvi o barulho das sirenes.
Ouvi os passos dos bombeiros, até que vi de canto de olho as botas de um deles.
Mexi a cabeça e disse:
- ihhh ....saiu!
 
Foi o maior esporro coletivo que já levei na vida
 
 

domingo, 13 de abril de 2014

Salve Jorge




Eu tive um tio.
Irmão da minha mãe.
Ele era a pessoa mais legal e engraçada que conheci.
Toda família tem um tio legal, mas como esse era o meu, era o mais legal de todos
O nome dele era Jorge.
Nada pra ele era discreto.
Tudo era grandioso.
Ele comprava roupas de baixo na rua popular aqui no Rio de Janeiro.
A Rua da Alfândega (o equivalente a 25 de março de SP).
Mas ele não comprava 1 cueca só, comprava 25 de uma vez.
Comprava 25 pares de meia também.
O engraçado é que a toda roupa dele, mas toda mesmo combinava. Meias com cuecas e cintos. Calça com blusa e sapatos.
Como a compra era maciça, sempre dizia que tinha 90 pares de sapato, 110 blusas, 120 cuecas, 200 cintos e etc. Tudo da rua da Alfandêga.
Era uma figura!
Além disso, em nenhum dos meus aniversários de criança ele deixou de comparecer. E comprava todos os presentes na rua da Alfandega também. E não era só uma boneca. Era aquele saco, com 25 bonecas de plástico.
Adorávamos os causos dele.
Havia sido alcóolatra e foi do AAA por 20 anos.
Por isso, tinha milhões de histórias pra contar sobre as bobagens que fazia quando ainda bebia.
Ainda bem que ele nunca mais bebeu.
Como ele dormia algumas vezes na minha casa, era todo arrumado e combinandinho que deitava. Só acordava de manhã e lavava os olhos.
E quando se olhava no espelho dizia: " A velhice é uma merda"!
Não entendia muito bem, porque era muito nova (uns 30 anos)
Hoje claro que entendo bem e virou até um código de família: "a velhice é uma merda"
Morreu aos 64 anos de um câncer no fígado.
Foi rápido e a última vez que falei com ele ao telefone já internado me disse:
- "Tô todo amarelo, mas meu pijama é de um amarelo tão espetacular que combina exatamente com minha pele.
Saudades do tio Jorge e como é bom ter tido na vida alguém como ele!