sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Floresta

 
 
Meu filho me ligou:

- mãe, pode vir aqui em casa para me ajudar na mudança? meia horinha só, tenho que sair pra gravar um programa.não quero deixar os homens da mudança sozinhos

Eu:

-Táaaaa

Vesti uma bermuda velha, camisa verde que uso para praia e um chinelo de dedo (dessa vez de couro).
Cabelo desgrenhado, branco na raiz.

Quando cheguei no apartamento dele a mudança já havia terminado.
Não era mais necessária minha presença.

 -mãe, dou uma carona até o Jardim Botânico, dali você pega um táxi.

 
Ok. Tranquilinha subi na van.
Chegamos na porta da Globo saltei e fui andando pro ponto do táxi

 
-mãe, não quer assistir? você fica num cantinho do estúdio, ninguém vai te ver.

 
- Táaaaaaa, eu assisto. tem certeza que ninguém vai me ver?

 

Fiquei sentada numa cadeira no fundo do estúdio.
Tinha uma Tv Full HD de 250 polegadas ao meu lado.
Assistia o programa por ela.
Só via o palco com convidados e o meu filho tocando suas músicas.
Tudo sob controle até que a apresentadora do programa diz:

- Nosssa!!!!!! estou impressionada como sua mãe sabe todas suas músicas!!!!!

Todas, masTODAS as câmeras viraram pra mim. Ai meu Deus!
Eu de canto de olho, olho para aquela TV Full HD de 250 polegadas e só consigo enxergar a "floresta amazônica" (minha blusa verde) ocupando a tela de ponta a ponta.
Meu ombro ia de um lado ao outro da tela e eu rezava baixinho: não mostra o meu pé por favor, não mostra o meu pé, não mostra o meu pé.

O resultado disso está nesse vídeo:

 

Vesga


 
 
Fui vesga.
Estrabismo momentâneo do olho esquerdo segundo o oftalmologista.
Na época do diagnóstico tinha 6 anos.
Além disso, sabiamente meu olho estava parando de enxergar.
Vista preguiçosa.
Cruel!

 A única maneira de consertar era o uso de óculos e tapar a "vista boa"( a direita) com esparadrapo.
Assassinato estético!

Começamos então um tratamento de exercício para o olhos formarem o ângulo certo.
Consistia numa maquininha tipo binóculo.
Em um dos olhos era a imagem de uma gaiola, no outro um passarinho.
Tinha que fazer o passarinho entrar na gaiola ou o leão entrar na jaula ou a girafa no cercado.
Enfim, era um bichinho preso por dia.
Sofria com o exercício chato e sofria em prender os bichinhos.

Fiz isso até os 13 anos.
Imagina que apelidos tive na adolescência!

Essa técnica só prendeu os animais, possivelmente não me deixou cega, mas não curou o estrabismo.
Operar então era a 2ª etapa.

Há 50 anos atrás não dá pra pensar que era moleza isso.
Fiz protestos, mas minha mãe me obrigou a operar.
Operei, né? Fazer o quê?

Mais três anos colocando bichinhos na gaiola!
Não perdi a capacidade de visão, mas continuo ligeiramente vesga.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Dezenove


 
 
Sempre ouvi, minha mãe contar que tinha levado 19 tombos na rua.
É um bocado de tombo!
- Também calço 33!  Diz ela.

De um tempo pra cá minha irmã está quase alcançando o recorde da minha mãe.
Correndo contra o tempo, ela leva pelo menos, um tombo por mês.

Eu não.
Quase não caí nessa longa vida.
Mas acho que não fugirei a sina.

Fui até a farmácia na esquina da minha casa.
Como sempre não me enfeitei muito para tal.
Ao sair tropecei no degrau, dei três cambalhotas e me estatelei na porta.

A farmácia fica ao lado de um bar de pinguços.
Situação complicada me levantar do chão (para os pinguços).

Depois de muito segura aqui, pega dali, consegui sozinha me levantar.
Saí mancando com vergonha quase chorando.
Mas fui caminhando até em casa.

- benhê, caí na rua
- ANA, VOU TE INTERDITAR!!!!!
- mas
- NÃO É POSSÍVEL, VOCÊ CAIU 2 VEZES!!!!

 Pois é, faltam ainda 17!

 

Idiota



 

 

Tinha uns 5 ou 6 anos quando fomos convidados para uma festa na casa do gerente da agência onde meu pai trabalhava.
Era um dos filhos dele que fazia 10 anos.
De comida o que me lembro são os doces.
Mas, o acontecimento principal era o m
ágico.
Na garagem da casa montaram um teatro.
Cadeiras de plástico enfileiradas e na frente um pequeno palco.
Sentei numa das filas do meio.
O mágico fez todas as mágicas já conhecidas.
Tirou coelho da cartola, fez desaparecer cartas, trocou bolinhas de lugar e etc.
O último número era o principal.
Chamou um menino da plateia e o fez beber um copo d’água.
Depois enrolou um jornal, colocou na frente da bermuda do menino e também uma jarra embaixo.
Virei para trás, tapei os olhos e disse: – Aiiiii QUE VERGONHA!!!
O menino que estava atrás de mim gritou no mesmo tom: –Aiiiii QUE IDIOTA!!!!
Mamãe me chamou nesse instante para tirar essa foto.
Eu naturalmente sou a com cara de idiota.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Inocência



Minha mãe quando solteira tinha algumas amigas.
Uma delas ficou muito rica.
Morava na Tijuca, bairro de classe média alta do Rio nos anos 50/60.

Um dia fomos convidadas para o aniversário de 15 anos da filha dela.
Eu tinha em torno de 10 anos.
Nossa família não era pobre, mas éramos simples.
Portanto comprar roupas e sapatos para tal evento ficava caro para nós.
Mas fomos, todos muito arrumados.
Afinal, era festa da filha da amiga rica da minha mãe!

A festa estava chata demais.
Só tinha velhos.
Sim, 15 anos já eram velhos pra mim.
Mas, num dado momento foram todos ( meninos e meninas) para dentro de um dos quartos.
Me chamaram também.
Me achei o máximo!
Explicaram a brincadeira para mim.
Não entendi muito bem, mas fiz cara de inteligente.
Sortearam um nome e o primeiro que saiu foi o meu.
Perguntaram:
- pera, uva ou maçã?
Respondi: – tangerina
- NÃO
- abacaxi
- Nãoooooooo
- banana
- NÃOOOOOOOO
não
não
e não
garota burra!

Me expulsaram do quarto!
Festa desagradável!

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Eu e meu Cabelo

 
 



Há alguns (muitos) anos atrás estava me achando velha, gorda, boba e chata.
Resolvi então cortar o cabelo.
Marquei num salão chiquérrimo, de um shopping chiquérrimo da Barra da Tijuca.

O preço na segunda feira era a quinta parte do preço.
Me atendeu um rapazinho.
Expliquei tudo que queria.
Como queria.

Não queria a orelha de fora nem a nuca batidinha.
Olhamos revistas e escolhemos o corte.

Pois bem, ele rodou a cadeira de costas pro espelho e começou: tec,tec,tec

Fui ficando com sono. Dormi.
Melhor dizendo, cochilei.

Quando despertei o tec tec continuava.
Comecei a reparar que havia algo errado, porque as pessoas passavam por mim de boca aberta e olhando para o chão.
Mas tudo bem.

No final ele rodou a cadeira e perguntou: e aí?
- E AÍ CARA PÁLIDA, PEGA PEDACINHO POR PEDACINHO DO MEU CABELO E COLA TUDO NA MINHA CABEÇA.
SEU DESGRAÇADO, AGORA ALÉM DE VELHA, GORDA, BOBA E CHATA, EU TÔ CARECA TAMBÉM!!!!

Mas não falei nada.

Corri até o banheiro, mas antes passei pela lanchonete e peguei um saco de papel vazio.
As moças que estavam no banheiro me convenceram que não era discreto eu enfiar o saco na cabeça e fazer dois buracos nos olhos.

Consegui correr até meu carro sem encontrar com ninguém conhecido.
Mas ao entrar na garagem do meu prédio, o porteiro veio correndo porque pensou que eu fosse a minha mãe.

Convenhamos que alguém com mais ou menos 50 anos ser confundida com a mãe fica com 250 anos.

AGORA ESTAVA VELHA, GORDA, BOBA, CHATA, CARECA E COM 250 ANOS.

Entrei em casa e meu filho gritou:
-QUERO MINHA MÃE DE VOLTA!

VELHA,GORDA, BOBA, CHATA, CARECA, 250 ANOS E EU NÃO ERA EU!

 Meu marido chegou e disse:
-Que bobagem você fez!!!

VELHA, GORDA, BOBA, CHATA, CARECA, 250 ANOS, NÃO ERA EU E AINDA POR CIMA BURRA!!!!

Levei dois anos pra ser apenas velha, gorda, boba e chata outra vez!