terça-feira, 20 de agosto de 2013

Aparência





Uma parente idosa tem mania de pedir ao meu filho autógrafos genéricos. Em confiança assim ele faz: "Um abraço" se for pra homem " Um beijo´" se for pra mulher.
Minha parente completa com o nome da pessoa.
O mais interessante é que ninguém pede esse autógrafo, ela oferece.

Um dia fui visitá-la .
Como era rápido, vesti uma calça de moleton , uma camiseta qualquer, sandálias de borracha.
Acontece que eu havia quebrado um dente da frente e era impossível sorrir antes do dentista completar o tratamento.
Essa é uma descrição do meu estado. Total esculhambação porque seria uma visita rápida.

Estacionei o carro na garagem do apartamento dela, subi rapidamente o elevador torcendo pra não encontrar nenhum vizinho.
Depois de um café foi impossível não atender ao pedido de levá-la ao shopping para trocar um celular.
Tenho problemas em dizer não.

Lá fomos nós. A ideia era entrar e sair o mais ligeiro possível.
Assim que a questão estava resolvida, ela me disse que tinha que passar numa loja de departamento pra entregar o autógrafo pra vendedora da loja de cd.
Tenho problemas em dizer não.

Ninguém tem ideia do meu sofrimento subindo aquela escada rolante com a sensação de ter dois metros de altura estar de pijama e desdentada.
Esse foi o menor dos meus problemas.

Ao chegar na seção a mocinha não estava, minha parente não sabia o nome dela e nem a aparência. Mandou chamar a gerente e falou assim:
- Sabe o que é, estou com autógrafo do filho da minha parente. Você conhece?
A gerente fez cara de alface e disse que não conhecia.
- Conhece sim!!! quer ver? Cantou uma música inteirinha do meu filho
Eu, nessa altura, já estava escondida atrás de uma gôndola apavorada que ela me apontasse.
A gerente continuou com cara de alface.

Depois de algum tempo descobriram que a tal mocinha estava na lanchonete no andar de baixo.
Lá vou eu de novo naquela maldita escada rolante.

Me escondi atrás de uma pilastra enquanto minha parente conversava com a mocinha.
Não sou muito de rezar, mas dessa vez eu rezei pra ela não me dedurar.
Mas não adiantou. Minha reza foi em vão.
Ela me apontou, me chamou.
Tenho problemas em dizer não.
Fui!
E aí, aí sim, foi o ápice pra alguém de pijama e desdentada
A mocinha gritou a plenos pulmões:
- MINHA SOGRA!!!!!!

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