terça-feira, 20 de agosto de 2013

Pedido





Dona Branca tem 94 anos. Lúcida, porém muito quieta. Cabelos branquinhos, óculos de lentes grossas, bengala sempre companheira.
Abaixo-me para cumprimentá-la. Ela reconhece, sorri e diz:
- Menina! que cabelo lindo!
Eu agradeço e sento ao lado pra conversar um pouco. Parece solitária.
O aparelho de surdez indica que preciso falar alto. Ela repete cada uma das minhas palavras mexendo os lábios.
Pergunto como vai de saúde, o que anda fazendo.
Vai muito bem, toma apenas remédio para pressão.
Mora sozinha, faz a própria comida, arruma a casa.
Conta sobre as notícias que ouviu no rádio.
Diz que vê só a novela das seis horas, porque não quer incomodar os vizinhos com o som da tv no máximo do volume.
Fala da bisneta com alegria. De como está feliz em ver a família reunida.
Já no final de nossa conversa me conta o seu mais profundo desejo:

- Ana, a velhice me deixou apenas um quinto dos prazeres da vida.
Gostava de ler, não posso mais porque não enxergo. Gostava de ouvir música, não posso mais porque não escuto. Gostava de caminhar, não posso mais porque as pernas não me levam.
Se eu pudesse pedir alguma coisa da vida, pediria que a vida acabasse agora.

Palavras fugiram da minha boca:
- Dona Branca, faça isso comigo não. Toda vez que suponho a vida vivida, penso na senhora.

Acho que pedi demais!

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