terça-feira, 20 de agosto de 2013

Namoro na Janela



Trabalhou na minha casa uma senhora chamada Carmelita por 21 anos.
Era paraibana, analfabeta com cinco filhos que criou sozinha.
Não tinha saber, mas tinha sabedoria por demais.

Dos 5 filhos perdeu o mais novo assassinado.
Para preencher esse vazio, adotou, com 2 dias de vida, um menino negro como a noite chamado Dudu.

Nas minhas pinturas fiz um quadro de um casal namorando na janela. Ele moreno e ela negra.
Toda vez que Carmelita olhava o quadro dizia: - Mas que neguinha metida à besta!!! olha a unha dela!!! olha o vestido dela!!! muito metida!!! ahhh mas o homem, não: esse sim !! é distinto, bem apessoado. deve ser pernambucano!!! odeio essa macaca!!!
E eu, perplexa perguntava: Mas Carmelita, como assim? E o Dudu? é negro também?
E ela então me respondia: - Mas o Dudu é meu!

Fiquei pensando que se aquele quadro mexia com os instintos mais arraigados na história daquela mulher, deveria também mexer com a emoção das pessoas.

Resolvi inscrevê-lo numa exposição.
Acho que acertei, ganhei com esse quadro o Prêmio Aquisição da Bienal Naif de Piracicaba de 2004

Nenhum comentário:

Postar um comentário